Carta do Editor

Escrever sobre a Internet é uma temeridade. Você deixa um documento para ser cobrado pelo incobrável: o futuro. Um futuro imprevisível porque até mesmo o que hoje se considera o paradigma da essência humana está mudando. Uma mudança até agora lenta, quase imperceptível para aqueles que não estão ligados desde já ao movimento revolucionário e subversivo que estamos vivendo e cuja causa primária são as ilimitadas possibilidades que os avanços do conhecimento do homem nas áreas de telecomunicações e informática estão trazendo, e trarão cada vez mais, para a Humanidade.

No momento em que vivemos o mais forte movimento de concentração da economia mundial moderna, estamos montando quase inconscientemente a infra-estrutura que permitirá ao homem dar um fantástico salto em direção à sua realização pessoal, individual, caminho para o consenso coletivo. Isso na medida em que as redes de comunicação nos permitem acessar todo tipo de informação ao mesmo tempo em que o computador nos permite disponibilizá- la para nós mesmos ou para terceiros da forma mais adequada para as nossas necessidades.

Para o que serve o sistema de educação mundial nos dias atuais? Um sistema que é fruto do século passado, cuja realidade política, econômica e social não têm nada a ver com o mundo contemporâneo. Um sistema que tem menos possibilidades técnicas qualitativas e quantitativas de despertar a curiosidade sobre o que fomos, o que somos e o que poderemos ser do que uma rede de comunicação de dados, imagens e voz que nasce para os homens comuns tentando interligar todos os centros de conhecimento e aqueles que se dedicam a apurar este conhecimento. Não serve para nada ou quase nada.

Um radical poderia afirmar que colabora para manter o status quo. Para dar mais vida a uma moribunda economia, que levou quase ao esgotamento dos recursos naturais renováveis da Terra e que criou um sistema de relações humanas bastante questionável sem dar em contrapartida a segurança de que estamos construindo um mundo mais aprazível aos que nos seguirão nesta efêmera passagem pelo tempo dos seres vivos. Não podemos, no entanto, menosprezar o que conquistamos até aqui. Há poucas dezenas de anos, seria impossível imaginar uma situação tão sensata para a humanidade: o domínio quase que absoluto da tecnologia, a integração planetária através das redes de comunicação, um número cada vez maior de seres humanos vivendo um número maior de anos, as barreiras ideológicas derrubadas. Cada vez mais o indivíduo é privilegiado. Cabe a nós, os sujeitos deste novo tempo que se desenha, os profissionais e cidadãos já inseridos neste novo universo, trabalhar para que o gap entre o passado e o futuro seja mais curto e o caminho de passagem menos conturbado. Foi nesta direção que a Agência Estado e seus profissionais mergulharam de cabeça há alguns anos. Temos como os dois pilares da nossa atividade a tecnologia e o conhecimento profissional de uma atividade humana, o jornalismo, e a intenção de que o resultado desta interação - os nossos serviços voltados para o mercado financeiro, o mercado empresarial, o mercado de agribusiness e o mercado de mídia, apesar de ainda restritos a setores organizados da economia - sejam uma contribuição à aceleração do processo de aculturamento da sociedade à realidade das possibilidades do tempo das redes.

A Internet derruba barreiras, acelera processos, democratiza as oportunidades e portanto oxigena os conflitos que nos fazem caminhar. Como hoje na economia industrial, conviveremos por muito tempo com "os confins", que podem estar aqui, ao seu lado, ou próximo do fim do mundo. Mas que é uma lembrança de que o que vale, no fim das contas, é o ser humano e a possibilidade de continuarmos tendo esperança.

assinatura Rodrigo Mesquita


Rodrigo Lara Mesquita (rmesquit@oesp.com.br)

Diretor da Agência Estado